Scúru Fitchádu é um acto de amor ao funaná, trazida até ao século xxi.
A aventura que Norberto Tavares (Volta pa Fonti, 1979) e o Catchás (Djam Brancu Dja, grupo Bulimundo, 1980), entre outros, começaram lá atrás com a electrificação do funaná – tem muito caminho pela frente. O mundo começa agora a descobrir o potencial do funaná.
A extraordinária divulgação do grupo Ferro Gaita, pelo o mundo fora, irá trazer pessoas de outras origens e influências ao género musical.
Começamos a sentir o interesse em experimentar coisas novas. Esta proposta é bom exemplo: está lá a gaita (acordeão), o ferrinho e a entrega, mais a visão pessoal…
Funana Sujo ou Punk dançante?
Sette Sujidade (mentor do projecto), não esquece as suas outras influências de quem cresceu entre o rock mais energético e as imensas possibilidades da produção electrónica. De alguma forma pode-se dizer que Sujidade (o nome parece encomendado), devolve ao funaná a sua crueza original, revisto e acrescentado.
Imaginem a surpresa dos colonos brancos, igreja incluída, ao escutarem o funaná pela primeira vez: direta demais para certas sensibilidades, muito negro, despojado e demasiado para os sentidos.
Pode ser desafiante, para quem se habituou ao funaná tradicional ou mesmo o mais acelerado, ouvir um tema do EP (com 5 músicas de introdução ao projecto), sem sentir alguma estranheza e algo perdido. Convenhamos que este não é um som que almeja a popularidade, é, antes de mais um exercício de enorme coragem pessoal, ousadia e fuga. Exige espírito forte e uma mente avisada.
Sim existe, Scúru Fitchádu!
Scúru Fitchádu é o projecto a solo de Sette Sujidade (Marcus Veiga), nascido em Lisboa, herdeiro de sangue caboverdiano pelo pai da Cova Figueira na Ilha do Fogo.
O projecto nasce em Almada em 2016 e tem a particularidade de ir beber ao funana tradicional do interior de Santiago (Cabo Verde), com sonoridades mais agressivas e carregadas de distorção do punk e electrónica.
O frequente uso de samples improváveis sobre as densas basslines e cadência acelerada de bpms, torna a sonoridade do projecto bastante peculiar criando um espaço inexistente no espectro musical.
Scúru Fitchádu (escuro cerrado) assume-se um projecto punk pela estética de produção Lo-fi. Ao vivo apresenta-se em formato banda (bateria, electrónicas) e ainda uma bailarina cheia sensualidade, o vocalista divide-se entre o ferro e a gaita (acordeão).
O primeiro Ep homónimo saíu no dia 5 de Julho 2016 e contém 5 musicas que podem ser ouvidas e baixadas gratuitamente.
Escuta, em baixo, esta mistura inesperada de funaná com electrónica, envolta em atitude punk. Surpreendam-se:
O video seguinte, mostra uma actuação musical (num terraço de Lisboa) à BalconyTV, onde o vocalista e líder do grupo, explica as suas influências mais evidentes.
Scúru Fitchádu na web
bandcamp: scurufitchadu.bandcamp.com
facebook: facebook.com/scurufitchadu
Fotografias: António Leão de Sousa
Vamos aí, puxar por esses espíritos fortes e mentes avisadas, dia 7 de Fevereiro na Musidanças World Sessions #2, no Armazém do Chá, Porto!